domingo, 7 de novembro de 2010

Porquê "In Taberna Quando Sumus"?

Porquê "In Taberna Quando Sumus"?





Codex Buranus (Carmina Burana) 
Wheel of Fortune (Schicksalsrad)


In Taberna Quando Sumus (Quando na Taberna Estamos) faz referência ao trecho XIV do Segundo Ato das Canções de Beurem mais conhecida pelo título latinizado de Carmina Burana ópera cantata do século XX de Carl Orff.

Carmina Burana é compilação de manuscritos do final do século XIII, conservada na Abadia de Benedictbeuern (Bavária, sul da Alemanha) e publicada em 1847, edição da qual Orff escolheu os 24 poemas para sua obra. Atribuídos aos goliardos, monges afastados da Igreja não apenas por sua exaltação aos prazeres da carne, à bebida e à jogatina, mas também pelas críticas pertinentes que faziam à corrupção dos clérigos, às injustiças sociais e aos usos e costumes repressivos de então, esses textos parodiavam os ritos da Igreja com textos profanos, divertidos e até eróticos, utilizando-se da métrica dos hinos católicos (compare-se a de O Fortuna com a de Dies irae) e das melodias do Gregoriano.





14 - In taberna quando sumus

In taberna quando sumus
non curamus quid sit humus
sed ad ludum properamus
cui semper insudamus.
Quid agatur in taberna,
ubi nummus est pincerna
hoc est opus ut queratur
sic quid loquar, audiatur.

Quidam ludunt, quidam bibunt,
quidam indiscrete vivunt
Sed in ludo qui morantur
ex his quidam denudantur,
quidam ibi vestiuntur,
quidam saccis induuntur.
Ibi nullus timet mortem,
sed pro Baccho mittunt sortem:

(...)

bibunt omnes sine lege.
Bibit hera, bibit herus,
bibit miles, bibit clerus,
bibit ille, bibit illa,
bibit servus cum ancilla,
bibit velox, bibit piger,
bibit albus, bibit niger,
bibit constans, bibit vagus,
bibit rudis, bibit magus,
Bibit pauper et egrotus,
bibit exul et ignotus,
bibit puer, bibit canus,
bibit presul et decanus,
bibit soror, bibit frater,
bibit anus, bibit mater,
bibit iste, bibit ille
bibunt centum, bibunt mille.
14 - Quando estamos na taberna

Quando estamos na taberna,
não pensamos que ao pó voltaremos,
mas corremos para o jogo,
em meio ao qual sempre suamos.
O que se passa na taberna,
onde o anfitrião é o dinheiro
às vezes é trabalho, vale a pena interrogar;
ouçam, então, o que lhes tenho a dizer.

Alguns jogam, alguns bebem,
alguns vivem desregradamente.
Mas, dos que ficam no jogo,
alguns são despidos,
alguns ganham roupas,
alguns acabam com trapos se vestindo.
Aqui ninguém teme a morte,
mas por Baco jogam seus dados:

(...)

bebem todos sem lei.
Bebe a senhora, bebe o senhor,
bebe o soldado, bebe o padre,
bebe aquele, bebe aquela,
bebe o servo com a criada,
bebe o rápido, bebe o lerdo,
bebe o branco, bebe o negro,
bebe o firme, bebe o incerto,
bebe o bruto, bebe o sábio,
Bebe o pobre e o enfermo,
bebe o exilado e o estrangeiro,
bebe o menino, bebe o ancião,
bebe o bispo e o deão,
bebe a irmã, bebe o irmão,
bebe a bruxa, bebe a mãe,
bebe este, bebe aquele,
bebem cem, bebem mil.





O trecho XIV das seleções de Carl Orff refere-se a estadia na Taberna. Quando lá estavam evitavam falar em assuntos desagradáveis como a morte; o jogo os confortava; todos bebiam: a senhora, o senhor, o cabo, o marginal e até o monsenhor onde todos honravam desta ou doutra forma à Baco, Deus romano do vinho. Este blogger também honra à Baco com seus versos e seus visitantes são seus convivas sempre adornados de jogos, vinho e prazer conforme ditam os versos acima.

Dedicarei assim o próximo tópico a Fortuna Imperatrix Mundi (Fortuna Imperatriz do Mundo) relacionado aos poemas das Canções de Beuren. Nestes tempos de especulação pecuniária e globalização estabelecida todos terem a oportunidade de devanear profundamente em sua Roda e saiba que ninguém estará de fora, ninguém nunca esteve.

5 comentários:

Anônimo disse...

Muito interessante.Adooro novas perspectivas.
Não há ciclos, mas sim caminhos que se percorrem, como quem sulca na terra as rugas do seu próprio rosto, e é sempre mais alto... e é sempre mais fundo...
os que ficam são os que petrificam..
Abraço.

Hecatus disse...

Olá Margoh,

O que estou dizendo é justamente que há ciclos sim, entretanto o ciclo não deve ser visto como um círculo de repetições "vicioso" dizendo que estes caminhos são predeterminados. As estações da natureza, da vida, as escolhas, a Roda da Fortuna da qual nossas escolhas levam a nossas glórias e nossas desgraças.

Hecatus.

Anônimo disse...

Nenhum trabalho é conquistado e realmente útil se não for construído com a determinaçao e o aconchego de nossos sonhos, devidamente pré-estabelecidos quando sabemos que somos seres curiosos.
A curiosidade move o homem desde os primórdios da evolução das raças.
Parece que somente se pára um ser curioso quando saciada sua sede de saber.
EU, assumo minha curiosidade sadia em busca de horizontes e dimensões infinitas desta e de outras vidas.
Somos seres em construção (neste sentido que usei "nao ha ciclos"
Sigo encantada com seu blog.
1 beijo

Hecatus disse...

Concordo contigo e felizmente a sede de saber humana nunca será saciada, graça a curiosos como nós ;). Nesta dimensão de infinitas possibilidades é que encontro descanso. Acrescento uma frase de valor: "A curiosidade é mais importante do que o conhecimento." Albert Einsten.

Fico agradecido por estar aqui.

Hecatus.

Anônimo disse...

[..]Costuro o infinito sobre o peito.
Como aqueles que amam.
Hilda Hilst
(adooro ;)