domingo, 30 de maio de 2010

Canto a Éris - FV/HR/LF/JAF

Da capa de 'Eris e Eirene'
de Hebert Pietschmann


 "Todas as deusas do mundo 
tem um só nome e seu nome é Éris".
Éristiin Thalles Sebek


"Canto à Éris" - FV/HR/JAF/LF


Aquilo que vi era lindo,
Como se nada mais
Em minha visão existisse.
Tua beleza permanecia
De infinito a infinito
Que não era feito
A mim saber se Tu
Morrias ou nascias
Entre os tempos.

Teu hino não é Órfico,
Quem cantá-lo-ia afã?
É Érisico, pelas tuas
Próprias mãos renascido
Tal orvalho da manhã,
Aljofares dos deuses,
Formaram-se donde
Tu passaras com Tuas
Negras madeixas
qu'a noute carregava.

Saúdem os homens a Ti
Saúdem os mortos a Ti
Salve Éris!

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terça-feira, 4 de maio de 2010

A sesta de um Fauno - Stéphane Mallarmé

"Ninfas e Sátiro  "
William-Adolphe Bouguereau,
1873 Oil on canvas', ISO x 237 cm (59 x 93.3 in.). Musée îles lieaux

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Stéphane Mallarmé
Stéphane Mallarmé
L'après-midi d'un faune
A sesta de um fauno
(Eglogue - 1865-1975)
(Écloga - 1865-1975)

Le Faune:
O Fauno:

Ces nymphes, je les veux perpétuer.
Estas ninfas, eu quero perpetuar.
Si clair,         
Tão leve
Leur incarnat léger, qu'il voltige dans l'air
O seu claro rubor que um volteio descreve
Assoupi de sommeils touffus.
No ar dormente, denso de sono.
Aimai-je un rêve?
Amei um sonho?
Mon doute, amas de nuit ancienne, s'achève
À dúvida, montão de antiga noite; ponho
En maint rameau subtil, qui, demeuré les vrais
Fim, ao ver deste bosque a sutil ramaria
Bois même, prouve, hélas! que bien seul je m'offrais
Provar-me que eu, na solidão, me oferecia
Pour triomphe la faute idéale de roses.
Em triunfo, ai de mim! a falta ideal de rosas.
Réfléchissons...
Reflitamos...

ou si les femmes dont tu gloses
serão mulheres fabulosas
Figurent un souhait de tes sens fabuleux!
Que à exaltação dos teus sentidos atribuis?
Faune, l'illusion s'échappe des yeux bleus
Fauno, a ilusão se escapa dos olhos azuis
Et froids, comme une source en pleurs, de la plus chaste:
E frios, como fonte em prantos, da mais casta:
Mais, l'autre tout soupirs, dis-tu qu'elle contraste
Toda suspiros, a outra, achas que ela contrasta
Comme brise du jour chaude dans ta toison?
Qual brisa matinal quente no teu tosão?
Que non! par l'immobile et lasse pâmoison
Mas não! no lasso espasmo e na sufocação
Suffoquant de chaleurs le matin frais s'il lutte,
Do calor, que a manhã combate, não murmura
Ne murmure point d'eau que ne verse ma flûte
Água se não a verte a minha flauta pura
Au bosquet arrosé d'accords; et le seul vent
De acordes irrorando o bosque; e o único vento
Hors des deux tuyaux prompt à s'exhaler avant
Pronto a exalar pelos dois tubos seu alento
Qu'il disperse le son dans une pluie aride,
Antes que em chuva árida espalhe os sons em fuga
C'est, à l'horizon pas remué d'une ride
É, no horizonte que não frisa uma só ruga,
Le visible et serein souffle artificiel
O visível, sereno sopro artificial
De l'inspiration, qui regagne le ciel.
Da inspiração, que ao céu retorna.

O bords siciliens d'un calme marécage
Ó pantanal siciliano, cuja orla sossegada e vasta,
Qu'à l'envi de soleils ma vanitésaccage
Rival dos sóis, a minha vaidade devasta,
Tacite sous les fleurs d'étincelles, CONTEZ
Tácito, num florir de mil centelhas, CONTA:
«Que je coupais ici les creux roseaux domptés
"Que eu, um caniço aqui talhando, a flauta pronta,
» Par le talent; quand, sur l'or glauque de lointaines
Feita com arte, eis o ouro glauco dos relvedos
» Verdures dédiant leur vigne à des fontaines,
Distantes dedicando a fontes seus vinhedos,
» Ondoie une blancheur animale au repos:
Ondeia uma brancura animal em repouso:
» Et qu'au prélude lent où naissent les pipeaux
Ao lento preludiar do caniço, o gracioso
» Ce vol de cygnes, non! de naïades se sauve
Voo de cisnes, não! de náiades se assusta,
» Ou plonge... »
Foge ou mergulha..."

Inerte, tout brûle dans l'heure fauve
Tudo ferve na hora adusta
Sans marquer par quel art ensemble détala
Sem que se possa ver onde se esconderá
Trop d'hymen souhaité de qui cherche le la:
Tanto himeneu, cobiça de quem busca o lá:
Alors m'éveillerai-je à la ferveur première,
Então despertarei, nos primeiros fervores,
Droit et seul, sous un flot antique de lumière,
Hirto e só, sob uma onda antiga de esplendores,
Lys! et l'un de vous tous pour l'ingénuité.
Lírios! e a um deles igual, a mesma ingenuidade.

Autre que ce doux rien par leur lèvre ébruité,
Não o doce nada que de seus lábios se evade,
Le baiser, qui tout bas des perfides assure,
O beijo suave que perfídias assegura,
Mon sein, vierge de preuve, atteste une morsure
Meu peito, antes intacto, atesta a mordedura
Mystérieuse, due à quelque auguste dent;
Misteriosa, devida a algum augusto dente;
Mais, bast! arcane tel élut pour confident
Mas basta! arcano tal busca por confidente
Le jonc vaste et jumeau dont sous l'azur on joue:
O cálamo que sob o azul ressoa, quando
Qui, détournant à soi le trouble de la joue,
Da face para si a turbação desviando,
Rêve, dans un solo long, que nous amusions
Sonha, num solo longo, ir assim distraindo
La beauté d'alentour par des confusions
A beleza em redor, a ela e a nós confundindo
Fausses entre elle-même et notre chant crédule;
Num engano que o nosso canto dissimula;
Et de faire aussi haut que l'amour se module
E fazer, no tom em que o amor se modula
Évanouir du songe ordinaire de dos
Desvanecer-se do habitual sonho, de lado
Ou de flanc pur suivis avec mes regards clos,
Ou de costas, ao meu olhar semicerrado,
Une sonore, vaine et monotone ligne.
Uma sonora, vã e monótona linha.

Tâche donc, instrument des fuites, ô maligne
Busca, pois, instrumento das fugas, maligna
Syrinx, de refleurir aux lacs où tu m'attends!
Siringe, reflorir nos lagos, me aguardando!
Moi, de ma rumeur fier, je vais parler longtemps
Fero do meu rumor, continuarei falando
Des déesses; et par d'idolâtres peintures
Dessas deusas; e, por idólatras pinturas,
À leur ombre enlever encore des ceintures:
Às suas sombras hei de arrancar as cinturas:
Ainsi, quand des raisins j'ai sucé la clarté,
Assim das uvas ao sorver a claridade,
Pour bannir un regret par ma feinte écarté,
Para a mágoa banir fingindo alacridade,
Rieur, j'élève au ciel d'été la grappe vide
Rindo ergo ao céu estivo o meu cacho vazio:
Et, soufflant dans ses peaux lumineuses, avide
Soprando as peles luminosas me inebrio,
D'ivresse, jusqu'au soir je regarde au travers.
Até o anoitecer olhando através delas.

O nymphes, regonflons des SOUVENIRS divers.
Ninfas, ressoprarei outras LEMBRANÇAS belas:
"Mon oeil, trouant les joncs, dardait chaque encolure
"Meu olhar dardejava, entre os juncos, um bando
Immortelle, qui noie en l'onde sa brûlure
De colos imortais seu ardor mergulhando
Avec un cri de rage au ciel de la forêt;
N'água, com gritos de ira até o céu da floresta;
Et le splendide bain de cheveux disparaît
No banho imergem-se as cabeleiras em festa
Dans les clartés et les frissons, ô pierreries!
Entre frêmitos e brilhos, Ó pedrarias!
J'accours; quand, à mes pieds, s'entrejoignent (meurtries
Corro e duas surpreendo enlaça das (pungia-as
De la langueur goûtée à ce mal d'être deux)
O lânguido sabor do mal de serem duas),
Des dormeuses parmi leurs seuls bras hasardeux;
Sonolentas, os braços soltos... e assim nuas
Je les ravis, sans les désenlacer, et vole
Eu as rapto, sem as desenlaçar, e em meio
À ce massif, haï par l'ombrage frivole,
A um maciço, da fútil sombra odiado, cheio
De roses tarissant tout parfum au soleil,
De rosas cujo aroma o sol ardendo inala,
Où notre ébat au jour consumé soit pareil."
A nossa festa ao dia incendido se iguala. "

Je t'adore, courroux des vierges, ô délice
Adoro a cólera das virgens, ó delícia
Farouche du sacré fardeau nu qui se glisse
Feroz do sacro fardo nu que com malícia
Pour fuir ma lèvre en feu buvant, comme un éclair
Foge ao meu lábio em fogo ao absorver-lhe, tal
Tressaille! la frayeur secrète de la chair:
Um relâmpago, o íntimo frêmito carnal:
Des pieds de l'inhumaine au coeur de la timide
Dos pés da desumana ao coração da tímida
Qui délaisse à la fois une innocence, humide
Entregando de vez sua inocência, úmida
De larmes folles ou de moins tristes vapeurs.
De lágrimas e de menos tristes vapores.
"Mon crime, c'est d'avoir, gai de vaincre ces peurs
"Meu crime foi, feliz de vencer os temores
Traîtresses, divisé la touffe échevelée
Fingidos, apartar o tufo desgrenhado
De baisers que les dieux gardaient si bien mêlée:
De beijos, que os deuses guardavam bem trançado:
Car, à peine j'allais cacher un rire ardent
Pois apenas fui ocultar um riso ardente
Sous les replis heureux d'une seule (gardant
Entre as pregas sutis de uma delas (somente
Par un doigt simple, afin que sa candeur de plume
Com um dedo a outro retendo, em seu candor de pluma,
Se teignît à l'émoi de sa soeur qui s'allume,
Tingida do fervor que acende a irmã, nenhuma
La petite, naïve et ne rougissant pas:)
Vergonha enrubescendo a ingênua, ao ver agrados)
Que de mes bras, défaits par de vagues trépas,
De meus braços, por vagas mortes extenuados,
Cette proie, à jamais ingrate se délivre
Aquela presa, eterna ingrata, se livrava,
Sans pitié du sanglot dont j'étais encore ivre. »
Sem pena do soluço em que eu ébrio ofegava"

Tant pis! vers le bonheur d'autres m'entraîneront
Tanto faz! que ao prazer outras me arrastem pelos
Par leur tresse nouée aux cornes de mon front:
Chifres atados às pontas dos seus cabelos:
Tu sais, ma passion, que, pourpre et déjà mûre,
Sabes, minha paixão, que purpúrea e madura
Chaque grenade éclate et d'abeilles murmure;
Cada romã explode e de abelhas murmura;
Et notre sang, épris de qui le va saisir,
E o nosso sangue, a quem o atrai, se dá sem pejo
Coule pour tout l'essaim éternel du désir.
E flui com todo o enxame eterno do desejo.

À l'heure où ce bois d'or et de cendres se teinte
Na hora em que o bosque de ouro e de cinzas se esmalta
Une fête s'exalte en la feuillée éteinte:
Na folhagem extinta uma festa se exalta:
Etna! c'est parmi toi visité de Vénus
Etna! é sobre o teu chão, visitado por Vênus
Sur ta lave posant tes talons ingénus,
Pousando em tua lava os brancos pés ingênuos,
Quand tonne une somme triste ou s'épuise la flamme.
Quando ronca um som triste ou a chama se acalma.
Je tiens la reine!
Agarro a deusa!

O sûr châtiment...
Ah, certo é o castigo...
Non, mais l'âme  
Oh, não! a alma

De paroles vacante et ce corps alourdi
De palavras vacante e este corpo indolente
Tard succombent au fier silence de midi:
Sucumbem ao torpor do meio-dia ardente:
Sans plus il faut dormir en l'oubli du blasphème,
Quero agora dormir, a blasfêmia olvidar,
Sur le sable altéré gisant et comme j'aime
E na areia jazendo, abrir a boca ao ar,
Ouvrir ma bouche à l'astre efficace des vins!
Do astro do vinho haurindo os raios eficazes!

Couple, adieu; je vais voir l'ombre que tu devins.
Ninfas, adeus; vou ver vossas sombras fugazes.


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