segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Hino a Pã - Aleister Crowley

Hino a Pã - Aleister Crowley



Aleister Crowley


No prefácio de «Magick in Theory and Practice, by The Master Therion», Aleister Crowley de 1929 encontramos o poema Hymn to Pan (Hino a Pã). É apresentado neste blog de forma regular três versões do Poema:

1ª - A versão orginal, em inglês, feita pelo próprio Crowley.
2ª - A versão feita a partir da tradução de Fernando Pessoa qual preocupou-se em manter a conformidade rítmica com o original do que parafrasear rimas soltas de forma literal.
3ª - A versão mais literal e atual feita por Helena Barbas, qual também contribui com sua tese de monografia**.

Peço aos nossos caros convivas que aumentem a resolução do browser , pois me ative a equipar os poemas de forma horizontal para melhor análise.





Pan coupling with Goat
This 1st Century BC statuette
was discovered in the Villa of the Papyri, Herculaneum. 







ALEISTER CROWLEY ( 1875-1947)
Hymn to Pan  - 1929

Ephrix erõti periarchés d’ aneptoman
Iõ iõ pan pan
õ pan pan aliplankte, kyllanias chionoktypoi
petraias ap deirados phanéth, õ
theõn choropoi anax

SOPH. AJ










Thrill with lissome lust of the light,
O man! My man!
Come careering out of the night
Of Pan! Io Pan!
Io Pan! Io Pan! Come over the sea

From Sicily and from Arcady!
Roaming as Bacchus, with fauns and pards
And nymphs and satyrs for thy guards,
On a milk-white ass, come over the sea
To me, to me,

Come with Apollo in bridal dress
(Shepherdess and pythoness)
Come with Artemis, silken shod,
And wash thy white thigh, beautiful God,
In the moon of the woods, on the marble mount,

The dimpled dawn of the amber fount!
Dip the purple of passionate prayer
In the crimson shrine, the scarlet snare,
The soul that startles in eyes of blue
To watch thy wantonness weeping through

The tangled grove, the gnarled bole
Of the living tree that is spirit and soul
And body and brain – come over the sea,
(Io Pan! Io Pan!)
Devil or god, to me, to me,

My man! my man!
Come with trumpets sounding shrill
Over the hill!
Come with drums low muttering
From the spring!

Come with flute and come with pipe!
Am I not ripe?
I, who wait and writhe and wrestle
With air that hath no boughs to nestle
My body, weary of empty clasp,

Strong as a lion and sharp as an asp –
Come, O come!
I am numb
With the lonely lust of devildom.
Thrust the sword through the galling fetter,

All-devourer, all-begetter;
Give me the sign of the Open Eye,
And the token erect of thorny thigh,
And the word of madness and mystery,
O Pan! Io Pan!

Io Pan! Io Pan Pan! Pan Pan! Pan,
I am a man:
Do as thou wilt, as a great god can,
O Pan! Io Pan!
Io Pan! Io Pan Pan! I am awake

In the grip of the snake.
The eagle slashes with beak and claw;
The gods withdraw:
The great beasts come, Io Pan! I am borne
To death on the horn

Of the Unicorn.
I am Pan! Io Pan! Io Pan Pan! Pan!
I am thy mate, I am thy man,
Goat of thy flock, I am gold, I am god,
Flesh to thy bone, flower to thy rod.

With hoofs of steel I race on the rocks
Through solstice stubborn to equinox.
And I rave; and I rape and I rip and I rend
Everlasting, world without end,
Mannikin, maiden, Maenad, man,

In the might of Pan.
Io Pan! Io Pan Pan! Pan! Io Pan!
FERNANDO PESSOA  (1888-1935)*
Hino a Pã   (de Mestre Therion) - 1931


















Vibra do cio subtil da luz,
Meu homem e afã
Vem turbulento da noite a flux
De Pã! Iô Pã!
Iô Pã! Iô Pã! Do mar de além

Vem da Sicília e da Arcádia vem!
Vem como Baco, com fauno e fera
E ninfa e sátiro à tua beira,
Num asno lácteo, do mar sem fim,
A mim, a mim!

Vem com Apolo, nupcial na brisa
(Pegureira e pitonisa),
Vem com Artêmis, leve e estranha,
E a coxa branca, Deus lindo, banha
Ao luar do bosque, em marmóreo monte,

Manhã malhada da àmbrea fonte!
Mergulha o roxo da prece ardente
No ádito rubro, no laço quente,
A alma que aterra em olhos de azul
O ver errar teu capricho exul

No bosque enredo, nos nás que espalma
A árvore viva que é espírito e alma
E corpo e mente - do mar sem fim
(Iô Pã! Iô Pã!),
Diabo ou deus, vem a mim, a mim!

Meu homem e afã!
Vem com trombeta estridente e fina
Pela colina!
Vem com tambor a rufar à beira
Da primavera!

Com frautas e avenas vem sem conto!
Não estou eu pronto?
Eu, que espero e me estorço e luto
Com ar sem ramos onde não nutro
Meu corpo, lasso do abraço em vão,

Áspide aguda, forte leão -
Vem, está fazia
Minha carne, fria
Do cio sozinho da demonia.
À espada corta o que ata e dói,

Ó Tudo-Cria, Tudo-Destrói!
Dá-me o sinal do Olho Aberto,
E da coxa áspera o toque erecto,
E a palavra do louco e do secreto
Ó Pã! Iô Pã!

Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã Pã! Pã.,
Sou homem e afã:
Faze o teu querer sem vontade vã,
Deus grande! Meu Pã!
Iô Pã! Iô Pã! Despertei na dobra

Do aperto da cobra.
A águia rasga com garra e fauce;
Os deuses vão-se;
As feras vêm. Iô Pã! A matado,
Vou no corno levado

Do Unicornado.
Sou Pã! Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!
Sou teu, teu homem e teu afã,
Cabra das tuas, ouro, deus, clara
Carne em teu osso, flor na tua vara.

Com patas de aço os rochedos roço
De solstício severo a equinócio.
E raivo, e rasgo, e roussando fremo,
Sempiterno, mundo sem termo,
Homem, homúnculo, ménade, afã,

Na força de Pã.
Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!

Hino a Pã (trad. Literal – H.B.)**

Eu estremeço em êxtase; plano nas asas da alegria súbita! Oh Pã. Oh Pã, aparece-nos, pirata do mar, do abismo de pedra de Cilene batida pela neve. Rei, criador da dança para os deuses, vem, a fim de que juntando-te a nós possas fixar nos passos de Nísia e Cnósia, as tuas danças que aprendeste sozinho. Agora eu quero dançar. E possa Apolo, senhor de Delos, caminhar sobre o Mar Ícaro e juntar-se a mim sob a sua forma divina, em benevolência eterna.

Tragédia Ajax de Sófocles (coral, VV. 695-705)






Arrebata-te com a luxúria ágil da luz
Oh homem, meu homem
Vem a correr saindo da noite
De Pã! Io Pã!
Io Pã! Io Pã! Vem sobre o mar

Da Sicília e da Arcádia!
Errando como Baco, com faunos e leopardos
E ninfas e sátiros por teus guardas,
Sobre um burro branco de leite, vem sobre o mar
Até mim, até mim,

Vem com Apolo em vestes nupciais
(Pastora e Pitonisa)
Vem com Artemísia, calçado de seda,
E lava a tua coxa branca, belo Deus,
À lua dos bosques, no monte de mármore,

A aurora com covinhas da fonte de âmbar!
Mergulha a púrpura da oração apaixonada
No sacrário carmesim, na rede/armadilha escarlate,
A alma que se surpreende em olhos de azul
Para observar a tua impudícia a lacrimejar através

Da mata emaranhada, do nodoso caule
Da árvore viva que é o espírito e a alma
E o corpo e o cérebro – vem sobre o mar,
(Io Pã!, Io Pã!)
Diabo ou deus, até mim, até mim,

Meu homem! meu homem!
Vem com trombetas troando agudas
Sobre o monte!
Vem com tambores murmurando baixinho
Da nascente!

Vem com flauta e vem com avenas!
Não estou eu maduro?
Eu, que espero e me retorço e luto
Com o ar sem ramos para aconchegarem
O meu corpo, cansado de abraço vazio,

Forte como um leão e afiado como uma áspide – 
Vem, Oh vem!
Estou entorpecido
Com a solitária luxúria da servidão demoníaca 
Espeta a espada pelos ulcerantes grilhões,

Devorador de tudo, gerador de tudo;
Dá-me o sinal do Olho Aberto,
E o penhor erecto da coxa espinhosa
E a palavra da loucura e do mistério,
Oh Pã! Io Pã!

Io Pã! Io Pã Pã! Pã Pã! Pã
Eu sou um homem:
Faz como quiseres, como o pode um grande deus,
Oh Pã! Io Pã!
Io Pã! Io Pã Pã! Estou acordado

Nas garras da serpente.
A águia retalha com o bico e as garras;
Os deuses retiram-se:
Chegam as grandes feras, Io Pã! Eu nasci
Para a morte no corno

Do Unicórnio.
Eu sou Pã! Io Pã! Io Pã Pã! Pã!
Sou teu companheiro, sou o teu homem,
Bode do teu rebanho, sou ouro, sou deus,
Carne do teu osso, flor da tua vara.

Com cascos de aço corro sobre as rochas
Pelo solstício teimoso até ao equinócio.
E deliro; e violo e rasgo e fendo
Sempiterno, mundo sem fim,
Manequim, donzela, Ménade, homem,

No poder de Pã.
Io Pã! Io Pã Pã! Pã! Io Pã!



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Notas:
(*) N.d.E: Hino a Pã; traduzido de Hymn To Pan, de Aleister Crowley, por Fernando Pessoa em 1931. 
(**) A tradução e o trabalho de Fernando Pessoa em respeito à Crowley é amplamente abordado na Monografia "Hino a Pã - tradução (traição) tradição de Helena Barbas"; Uma análise das cartas que Pessoa troca, das censuras, etc.; é feita menção as alterações feitas visão literal do assunto.


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