quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Angústia - Stéphane Mallarmé

Angústia
Stéphane Mallarmé

Não venho esta noite vercer-te o corpo, ó fera,
Onde os pecados de um povo se acumulam,
Nem cavar-te nos impuros cabelos a tempestade,
Sob o tédio sem cura que o meu beijo verte:

Busco em teu leito um fundo sono sem sonhos
A pairar sob ignotos véus do remorso,
Que tu podes fruir, após negras mentiras,
Tu que sobre o nada bem mais sabes que os mortos.

Pois, roendo-me a nativa nobreza, o vício
Me marcou, e a ti, com a sua esterilidade;
Mas em teu seio de pedra um coração mora
Que dente de crime algum morde. Eu p'lo contrário,

Pálido, vencido, assombrado p'lo sudário,
Fujo, temendo morrer se me deito só.

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