Aleister Crowley
No prefácio de «Magick in Theory and Practice, by The Master Therion», Aleister Crowley de 1929 encontramos o poema Hymn to Pan (Hino a Pã). É apresentado neste blog de forma regular três versões do Poema:
1ª - A versão orginal, em inglês, feita pelo próprio Crowley.
2ª - A versão feita a partir da tradução de Fernando Pessoa qual preocupou-se em manter a conformidade rítmica com o original do que parafrasear rimas soltas de forma literal.
3ª - A versão mais literal e atual feita por Helena Barbas, qual também contribui com sua tese de monografia**.
Peço aos nossos caros convivas que aumentem a resolução do browser , pois me ative a equipar os poemas de forma horizontal para melhor análise.
Pan coupling with Goat
This 1st Century BC statuette
was discovered in the Villa of the Papyri, Herculaneum.
ALEISTER CROWLEY ( 1875-1947) Hymn to Pan - 1929 Ephrix erõti periarchés d’ aneptoman Iõ iõ pan pan õ pan pan aliplankte, kyllanias chionoktypoi petraias ap deirados phanéth, õ theõn choropoi anax SOPH. AJ Thrill with lissome lust of the light, O man! My man! Come careering out of the night Of Pan! Io Pan! Io Pan! Io Pan! Come over the sea From Sicily and from Arcady! Roaming as Bacchus, with fauns and pards And nymphs and satyrs for thy guards, On a milk-white ass, come over the sea To me, to me, Come with Apollo in bridal dress (Shepherdess and pythoness) Come with Artemis, silken shod, And wash thy white thigh, beautiful God, In the moon of the woods, on the marble mount, The dimpled dawn of the amber fount! Dip the purple of passionate prayer In the crimson shrine, the scarlet snare, The soul that startles in eyes of blue To watch thy wantonness weeping through The tangled grove, the gnarled bole Of the living tree that is spirit and soul And body and brain – come over the sea, (Io Pan! Io Pan!) Devil or god, to me, to me, My man! my man! Come with trumpets sounding shrill Over the hill! Come with drums low muttering From the spring! Come with flute and come with pipe! Am I not ripe? I, who wait and writhe and wrestle With air that hath no boughs to nestle My body, weary of empty clasp, Strong as a lion and sharp as an asp – Come, O come! I am numb With the lonely lust of devildom. Thrust the sword through the galling fetter, All-devourer, all-begetter; Give me the sign of the Open Eye, And the token erect of thorny thigh, And the word of madness and mystery, O Pan! Io Pan! Io Pan! Io Pan Pan! Pan Pan! Pan, I am a man: Do as thou wilt, as a great god can, O Pan! Io Pan! Io Pan! Io Pan Pan! I am awake In the grip of the snake. The eagle slashes with beak and claw; The gods withdraw: The great beasts come, Io Pan! I am borne To death on the horn Of the Unicorn. I am Pan! Io Pan! Io Pan Pan! Pan! I am thy mate, I am thy man, Goat of thy flock, I am gold, I am god, Flesh to thy bone, flower to thy rod. With hoofs of steel I race on the rocks Through solstice stubborn to equinox. And I rave; and I rape and I rip and I rend Everlasting, world without end, Mannikin, maiden, Maenad, man, In the might of Pan. Io Pan! Io Pan Pan! Pan! Io Pan! | FERNANDO PESSOA (1888-1935)* Hino a Pã (de Mestre Therion) - 1931 Vibra do cio subtil da luz, Meu homem e afã Vem turbulento da noite a flux De Pã! Iô Pã! Iô Pã! Iô Pã! Do mar de além Vem da Sicília e da Arcádia vem! Vem como Baco, com fauno e fera E ninfa e sátiro à tua beira, Num asno lácteo, do mar sem fim, A mim, a mim! Vem com Apolo, nupcial na brisa (Pegureira e pitonisa), Vem com Artêmis, leve e estranha, E a coxa branca, Deus lindo, banha Ao luar do bosque, em marmóreo monte, Manhã malhada da àmbrea fonte! Mergulha o roxo da prece ardente No ádito rubro, no laço quente, A alma que aterra em olhos de azul O ver errar teu capricho exul No bosque enredo, nos nás que espalma A árvore viva que é espírito e alma E corpo e mente - do mar sem fim (Iô Pã! Iô Pã!), Diabo ou deus, vem a mim, a mim! Meu homem e afã! Vem com trombeta estridente e fina Pela colina! Vem com tambor a rufar à beira Da primavera! Com frautas e avenas vem sem conto! Não estou eu pronto? Eu, que espero e me estorço e luto Com ar sem ramos onde não nutro Meu corpo, lasso do abraço em vão, Áspide aguda, forte leão - Vem, está fazia Minha carne, fria Do cio sozinho da demonia. À espada corta o que ata e dói, Ó Tudo-Cria, Tudo-Destrói! Dá-me o sinal do Olho Aberto, E da coxa áspera o toque erecto, E a palavra do louco e do secreto Ó Pã! Iô Pã! Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã Pã! Pã., Sou homem e afã: Faze o teu querer sem vontade vã, Deus grande! Meu Pã! Iô Pã! Iô Pã! Despertei na dobra Do aperto da cobra. A águia rasga com garra e fauce; Os deuses vão-se; As feras vêm. Iô Pã! A matado, Vou no corno levado Do Unicornado. Sou Pã! Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã! Sou teu, teu homem e teu afã, Cabra das tuas, ouro, deus, clara Carne em teu osso, flor na tua vara. Com patas de aço os rochedos roço De solstício severo a equinócio. E raivo, e rasgo, e roussando fremo, Sempiterno, mundo sem termo, Homem, homúnculo, ménade, afã, Na força de Pã. Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã! | Hino a Pã (trad. Literal – H.B.)** Eu estremeço em êxtase; plano nas asas da alegria súbita! Oh Pã. Oh Pã, aparece-nos, pirata do mar, do abismo de pedra de Cilene batida pela neve. Rei, criador da dança para os deuses, vem, a fim de que juntando-te a nós possas fixar nos passos de Nísia e Cnósia, as tuas danças que aprendeste sozinho. Agora eu quero dançar. E possa Apolo, senhor de Delos, caminhar sobre o Mar Ícaro e juntar-se a mim sob a sua forma divina, em benevolência eterna. Tragédia Ajax de Sófocles (coral, VV. 695-705) Arrebata-te com a luxúria ágil da luz Oh homem, meu homem Vem a correr saindo da noite De Pã! Io Pã! Io Pã! Io Pã! Vem sobre o mar Da Sicília e da Arcádia! Errando como Baco, com faunos e leopardos E ninfas e sátiros por teus guardas, Sobre um burro branco de leite, vem sobre o mar Até mim, até mim, Vem com Apolo em vestes nupciais (Pastora e Pitonisa) Vem com Artemísia, calçado de seda, E lava a tua coxa branca, belo Deus, À lua dos bosques, no monte de mármore, A aurora com covinhas da fonte de âmbar! Mergulha a púrpura da oração apaixonada No sacrário carmesim, na rede/armadilha escarlate, A alma que se surpreende em olhos de azul Para observar a tua impudícia a lacrimejar através Da mata emaranhada, do nodoso caule Da árvore viva que é o espírito e a alma E o corpo e o cérebro – vem sobre o mar, (Io Pã!, Io Pã!) Diabo ou deus, até mim, até mim, Meu homem! meu homem! Vem com trombetas troando agudas Sobre o monte! Vem com tambores murmurando baixinho Da nascente! Vem com flauta e vem com avenas! Não estou eu maduro? Eu, que espero e me retorço e luto Com o ar sem ramos para aconchegarem O meu corpo, cansado de abraço vazio, Forte como um leão e afiado como uma áspide – Vem, Oh vem! Estou entorpecido Com a solitária luxúria da servidão demoníaca Espeta a espada pelos ulcerantes grilhões, Devorador de tudo, gerador de tudo; Dá-me o sinal do Olho Aberto, E o penhor erecto da coxa espinhosa E a palavra da loucura e do mistério, Oh Pã! Io Pã! Io Pã! Io Pã Pã! Pã Pã! Pã Eu sou um homem: Faz como quiseres, como o pode um grande deus, Oh Pã! Io Pã! Io Pã! Io Pã Pã! Estou acordado Nas garras da serpente. A águia retalha com o bico e as garras; Os deuses retiram-se: Chegam as grandes feras, Io Pã! Eu nasci Para a morte no corno Do Unicórnio. Eu sou Pã! Io Pã! Io Pã Pã! Pã! Sou teu companheiro, sou o teu homem, Bode do teu rebanho, sou ouro, sou deus, Carne do teu osso, flor da tua vara. Com cascos de aço corro sobre as rochas Pelo solstício teimoso até ao equinócio. E deliro; e violo e rasgo e fendo Sempiterno, mundo sem fim, Manequim, donzela, Ménade, homem, No poder de Pã. Io Pã! Io Pã Pã! Pã! Io Pã! |
|
------------------------------
Notas:
(*) N.d.E: Hino a Pã; traduzido de Hymn To Pan, de Aleister Crowley, por Fernando Pessoa em 1931.
(**) A tradução e o trabalho de Fernando Pessoa em respeito à Crowley é amplamente abordado na Monografia "Hino a Pã - tradução (traição) tradição de Helena Barbas"; Uma análise das cartas que Pessoa troca, das censuras, etc.; é feita menção as alterações feitas visão literal do assunto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário