segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Julie Heffernan & o Significado Simbólico no Surrealismo.


Julie Heffernan - Self Portrait as Agnostic, II




Julie Heffernan (1956-Hoje) é conhecida por sua exuberante e sensual pintura figurativa (e natureza morta) de grande escala que, à primeira vista parecem ter saído tanto do Renascimento Italiano ou Espanhol como do gênero de estilo de vida do século XVII Holandês ou mesmo das pinturas de paisagem de grande estilo. No entanto, os interesses de Heffernan são claramente do final do século XX como referência a seu simbolismo uma combinação de problemas psicológicos em torno do feminismo, questões de gênero, a estrutura de classes e maternidade. Sua habilidade em cruzar referências seculares e questões, tanto políticas como privadas, em pinturas figurativas de grande escala, faz Heffernan uma das artistas mais originais da atualidade.

Heffernan continua a explorar as maneiras pelas quais a figuração pode ser usada para revelar os meandros da sensibilidade feminina, sem denegrição ou simplificação, que normalmente caracteriza representações da mulher na arte histórica e contemporânea. Heffernan se esforça para ampliar nossa noção de beleza e presente que permite que as mulheres se vejam mais complexas, mutáveis e no controle de sua experiência. Sua obra é repleta de potentes significados simbólicos: O Ventre / Maternidade, Infância / Jesus / Religião,  / Psicologia humana interior e exterior. A Beleza é apresentada, mas assim em âmago. A narrativa é complexa, a figura transpira conhecimento e poder. O mundo é claramente uma construção feminina.



Las meninas, Velázquez - 1656 - Museu do Prado.
Rubens - Bacchus - 1638-40.
Hermitage St. Petersburg.




















A torre de Babel, de Pieter Brueghel, o Velho, 1563.
O Jardim das Delícias Terrenas
(painel central) Hieronymus Bosch, 1504.

















Mesmo que seus pitores favoritos sejam Peter Paul Rubens (1577-1640), por seus mundos ricos e sensuais e Diego Rodríguez de Silva y Velázquez (1599-1660), por seus retratos de penetração psicológica, seus quadros lembram a arte de pintores como Hieronymus Bosch (1450-1516) e Pieter Brueghel (1525/1530-1569). Sua paleta cromática beira o sonho e seu mundo: surrealista, fantástico e complexo, acabam por nos viciar.



Julie Heffernan  - Self-Portrait On A Coral Bed -  2003  oil on canvas

Julie Heffernan - Budding Boy 2010 (oil on canvas, 78 x 56 inches)

Julie Heffernan - Great Scout Leader III 2010 (oil on canvas, 72 x 54 inches)

Self Portrait Sitting on a World 2008, oil on canvas, 78 x 56 inches

Julie Heffernan - Tender Trapper 2010 (oil on canvas, 66 x 60 inches)

Julie Heffernan - Self Portrait as One Seeking Refuge 2010 (oil on canvas, 72 x 67 inches)

Julie Heffernan - Self Portrait as Tree House 2010 (oil on canvas, 68 x 65 inches)

Julie Heffernan - Self Portrait Setting Up Camp 2010 (oil on canvas, 63 x 60 inches)

Julie Heffernan - Self Portrait Moving Out 2010 (oil on canvas, 54 x 78 inches)

Julie Heffernan - Boy in Flight - 2010 (oil on canvas, 52 x 68 inches)

Julie Heffernan - Self Portrait as Big World - 2008 (oil on canvas, 65 x 68 inches)

Julie Heffernan - Self Portrait as Everything That Rises 2003, oil on canvas, 78 x 82 inches


Julie Heffernan - Self Portrait as Agnostic, II
Julie Heffernan - Self Portrait as Dirty Princess with Tail 2005, oil on canvas, 60 x 52 inches

Julie Heffernan - Self Portrait as Gorgeous Tumor  2004, oil on canvas, 68 x 57 inches

Julie Heffernan - Self Portrait as Great Scout Leader 1998, oil on canvas, 74 x 60 inches

Julie Heffernan - Self Portrait as Mother, Child 1997, oil on canvas, 74 x 60 inches


Julie Heffernan - Self Portrait as Quarry

Julie Heffernan - Self Portrait as Raising Cain 2007, oil on canvas,

Julie Heffernan - Self Portrait as Wunder Kabinet 2003, oil on canvas, 82 x 58 inches

Julie Heffernan - Self Portrait as Thing in the Forest 2002, oil on canvas, 64 x 52 inches



Julie Heffernan - Self Portrait in the Bedroom (2003)

Julie Heffernan - Self Portrait with Birds in My Fingers

Julie Heffernan - Study for Self Portrait as Booty 2009 (oil on canvas, 28 x 22 inches)


Julie Heffernan -Self Portrait as Tender Mercenary

Self Portrait as Infantas in Purgatorium II 1999, oil on canvas, 68 x 52 inches


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Gostaria de agradecer a colaboração de Margoh Werneck do Blog Pelo Céu da Minha Boca.




Notas:
http://www.montclair.edu/insight/Insight09-23-02/onthejob.html
http://www.luxartinstitute.org/Artist-Residency/Julie-Heffernan/Default.aspx
http://kopeikingallery.com/exhibitions/view/julie-heffernan
http://littlejohncontemporary.com/Heffernan/index.html
http://www.ppowgallery.com/selected_work.php?artist=10

domingo, 28 de novembro de 2010

My Sweet Price - Placebo


The Abduction Of Ganymede
 - Zeus and Ganymede. Ganymede holds a cock in his hand,
 a love gift from the god.
Penthesilea Painter, 450 BC, Museo Archeologico Nazionale, Ferrara


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My Sweet Price - Placebo


My Sweet Prince
Never thought you'd make me perspire
Never thought I'd do you the same
Never thought I'd fill with desire
Never thought I'd feel so ashamed

Me and the Dragon
Can chase all the pain away
So before I end my day
Remember

My sweet prince
You are the one
My sweet prince
You are the one

Never thought I'd have to retire
Never thought I have to abstain
Never thought all this could backfire
Close up the hole in my vain

Me and my valuable friend
Can fix all the pain away
So before I end my day
Remember

My sweet prince
You are the one
My sweet prince
You are the one
You are the one x4

Never thought I'd get any higher
Never thought you'd fuck with my brain
Never thought all this could expire
Never thought you'd go break the chain

Me and you baby
Used to flush all the pain away
So before I end my day
Remember

My sweet prince
You are the one
My sweet prince
You are the one
You are the one x8

My sweet prince
My sweet prince

Meu Doce Príncipe
Nunca pensei que você me faria transpirar
Nunca pensei que eu te faria o mesmo
Nunca pensei que eu me encheria de desejo
Nunca pensei que sentiria tanta vergonha

Eu e o dragão
Podemos espantar toda a dor para longe
Então antes que meu dia termine
Lembre-se

Meu doce príncipe
Você é o único
Meu doce príncipe
Você é o único

Nunca pensei que tivesse de me retirar
Nunca pensei que teria de me abster
Nunca pensei que isso fosse dar errado
Feche o buraco na minha veia

Eu e meu valioso amigo
Podemos manter longe toda a dor
Então antes que meu dia termine
Lembre-se

Meu doce príncipe
Você é o único
Meu doce príncipe
Você é o único
Você é o único x4

Nunca pensei que eu poderia chegar tão alto
Nunca pensei que você iria foder com o meu cérebro
Nunca pensei que isso tudo poderia acabar
Nunca pensei que você iria quebrar as correntes

Eu e você, meu amor
Costumávamos mandar toda a dor para longe
Então antes que meu dia termine
Lembre-se

Meu doce príncipe
Você é o único
Meu doce príncipe
Você é o único
Você é o único x8

Meu doce príncipe
Meu doce príncipe

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A Natureza & os Abomináveis.



"Os Abomináveis" por Fab.



"Na Natureza nada se cria,
nada se perde,
tudo se transforma"
- Lavoisier.


A NATUREZA & OS ABOMINÁVEIS


"O quanto eu suporto pessoas que não tem nenhum aspecto de espiritualidade. Portam-se como parasitas quais crenças alheias lhes são honrosas!
Entre o lamaçal e o lodo daquilo que poderíamos chamar de amor próprio. Revolvem-se tal vermes sedentos de energia - seja qual for!
Nem mesmo o alquimista da magia tornaria tais discrepâncias putrefactas em algo consumível! Somente a natureza que transforma vos será:
PIEDOSA!"

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Magnetismo - Guy de Maupassant [Português]


Isabel Roman Pict

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MAGNETISMO

Guy de Maupassant


Era no fim de um jantar de homens, na hora dos intermináveis charutos e dos incessantes cálices, na embriaguez e no cálido torpor das digestões, uma ligeira desordem das cabeças após tantas carnes e licores ingeridos e misturados.

Falava-se sobre magnetismo, sobre os truques de Donato[1] e as experiências do doutor Charcot[2]. De súbito, esses homens céticos, amáveis, indiferentes a qualquer religião, começaram a contar fatos estranhos, histórias inacreditáveis, mas que, segundo diziam, haviam ocorrido, recaindo bruscamente em crenças supersticiosas, agarrando-se a este último resto de maravilhoso, convertidos a este mistério do magnetismo, defendendo-o em nome da ciência.

Somente um sorria, um rapaz robusto, grande conquistador e caçador de mulheres, no qual havia se enraizado um descrença tão completa que ele não admitia nem mesmo discussão.

Repetia com ar de troça: “Conversa! Conversa! Não vamos discutir Donato, que é apenas um fazedor de truques muito esperto. Quanto ao Sr. Charcot, que dizem ser um sábio notável, ele me parece um desses escritores do gênero Edgar Poe, que acabam ficando loucos de tanto refletirem sobre estranhos casos de loucura. Ele observou fenômenos nervosos inexplicados e ainda inexplicáveis, avança neste desconhecido que se explora todo dia, e, não podendo ainda compreender o que vê, lembra-se talvez demais das explicações eclesiásticas dos mistérios. Aliás, gostaria de ouvi-lo falar, seria completamente diferente do que os senhores repetem.”

Houve uma espécie de movimento de piedade em torno do incrédulo, como se ele estivesse blasfemado em uma assembléia de monges.

Um desses senhos exclamou:

“Aconteceram milagres no passado.”

E o outro respondeu:

“Não o nego. Mas por que não existiriam mais?”

Então, cada um contou um caso, pressentimentos fantásticos, comunicações de almas através de longas distâncias, influências secretas de um ser sobre o outro. E diziam, afirmavam que os fatos eram indiscutíveis, enquanto o contestador inflexível repetia: “Conversa! Conversa!.”

Por fim ele se levantou, jogou fora o seu charuto e, com as mãos nos bolsos, disse: “Pois bem, eu também vou lhes contar duas histórias, e depois as explicarei. Ei-las:

─ No pequeno povoado de Etretat[3], os homens, todos marinheiros, vão todo ano pescar bacalhau nas costas da Terra Nova[4]. Uma noite, o filho de um desses marujos despertou sobressaltado gritando que seu ‘papai morreu nu má’, Acalmaram a criança que acordou de novo gritando que seu ‘papai afogô’, Um mês depois, de fato, soube-se que o pai tinha sido carregado pelo mar. A viúva lembrou-se das vezes que a criança despertou. Falaram em milagre, todos se impressionaram, aproximaram as datas e viram que o acidente e o sonho tinham praticamente coincidido; donde se concluiu que ambos tinham acontecido na mesma noite, na mesma hora. Aqui está um mistério do magnetismo.”


O narrador interrompeu. Então, um dos ouvintes, muito emocionado, perguntou: “E o senhor explica isso, explica?”.

“Perfeitamente, meu senhor, eu encontrei o segredo. O fato tinha me surpreendido e até desconcertado profundamente; mas eu, veja, eu não creio por princípio. Assim como outros começam acreditando, eu começo duvidando; e, quando não compreendo de maneira alguma, continuo a negar toda comunicação telepática entre as almas, certo de que a minha simples inteligência basta. Pois bem, procurei, procurei e acabei, de tanto interrogar todas as mulheres dos marinheiros ausentes, por me convencer de que não se passavam oito dias sem que uma delas ou uma das crianças sonhasse e anunciasse ao despertar que o ‘papai morreu nu má’. O constante e horrível temor deste acidente faz com que sempre falem dele, pensem nele o tempo todo. Ora, se uma dessas freqüentes predições, por um simples acaso, coincide com uma morte, fala-se logo em milagre, porque se esquece subitamente de todos os outros sonhos, de todos os outros presságios, de todas as outras profecias de mau augúrio que ficaram se confirmação. E observei, no que me diz respeito, mais de cinqüenta delas, cujos autores, oito dias depois, nem se lembravam mais. Mas, se o homem tivesse realmente morrido, a memória teria se avivado imediatamente e se teria celebrado a intervenção, de Deus segundo uns, ou do magnetismo segundo outros.”

Um dos fumantes declarou:

“É bastante razoável o que o senhor diz, mas vejamos a sua segunda história.”

“Oh! A minha segunda história é muito delicada para contar. É comigo que ela aconteceu, por isso desconfio um pouco da minha própria apreciação. Nunca se é um juiz imparcial quando participamos dos fatos. Mas, enfim, ei-la:


─ Nas minhas relações mundanas, havia uma jovem na qual não pensava nunca, que não havia nem mesmo olhado com atenção, ou notado, como se diz.

Eu a classificava entre as insignificantes, embora não fosse feia; enfim, ela me parecia ter olhos, nariz, boca, cabelos comuns, toda uma fisionomia insípida; era um desses seres sobre quem o pensamento só parece pousar por acaso, sem poder se deter, sobre quem o desejo não se debruça.

Ora, uma noite, quando escrevia cartas perto da lareira antes de ir para a cama, eu senti, no meio dessa miscelânea de idéias que afloram ao cérebro quando se fica alguns minutos sonhando, a pena no ar, uma espécie de pequeno sopro que me atravessava o espírito, um leve arrepio no coração e, imediatamente, sem razão, sem nenhum encadeamento de pensamentos lógicos, eu vi nitidamente, vi como se a tocasse, vi dos pés à cabeça, e sem nenhum véu, essa jovem em que nunca havia pensado por mais de três segundos seguidos, o tempo que o seu nome me passava pela cabeça. E, subitamente, descobri nela um monte de qualidades que nunca havia observado, um charme suave, um encanto voluptuoso; ela despertou em mim essa espécie de inquietação que nos coloca em busca de uma mulher. Mas não pensei nisso por muito tempo. Deitei-me e adormeci. E sonhei.

Já tiveram esses sonhos singulares, que lhes tornam senhores do impossível, que lhes abrem portas intransponíveis, alegrias inesperadas, caminhos insondáveis, não é?

Qual de nós, nesses sonos agitados, nervosos, ofegantes, não teve, abraçou, moldou, possuiu com uma acuidade de sensação extraordinária, aquela da qual seu espírito estava ocupado? E notaram que delícias sobre-humanas trazem essas galantes aventuras do sonho! Em que loucos êxtases nos lançam, com que espasmos fogosos nos sacodem, e que ternura infinita, acariciante, penetrante nos introduzem no coração por aquela que se mantém desfalecida e ardente, nessa ilusão adorável e brutal que parece uma realidade!

Eu senti tudo isso com uma violência inesquecível. Essa mulher foi minha, tão minha, que a morna doçura de sua pele permanecia em meus dedos, o odor de sua pele permanecia em meu cérebro, o gosto de seus beijos permanecia em meus lábios, o som de sua voz permanecia em meus ouvidos, a sensação do seu abraço em torno de mim, o encanto ardente da sua ternura em toda a minha pessoa, por muito tempo depois do meu despertar delicioso e decepcionante.

E três vezes nesta mesma noite o sonho se repetiu.

No dia seguinte, ela me atormentava, me possuía, me invadia a cabeça e os sentidos, a tal ponto que eu não ficava mais nem um segundo sem pensar nela.

Por fim, não sabendo o que fazer, vesti-me e fui vê-la. Na sua escada, eu tremia emocionado, meu coração disparava: um desejo ardente me invadia da cabeça aos pés.

Entrei. Ela se levantou ao ouvir o meu nome; e, de repente, nossos olhos se cruzaram com uma fixidez surpreendente. Sentei-me.

Balbuciei algumas banalidades que ela pareceu não ouvir. Eu não sabia o que dizer nem o que fazer; então, bruscamente, lancei-me sobre ela, agarrando-a num grande abraço; e todo o meu sonho realizou-se tão rápido, tão facilmente, tão loucamente, que, de súbito, duvidei se estava acordado. Ela foi minha amante durante dois anos.”

“O que o senhor conclui disso?”, perguntou uma voz.

O narrador parecia hesitar.

“Eu concluo... eu concluo uma coincidência, é claro! E depois, quem sabe? Talvez um olhar dela que nunca havia notado tenha reaparecido naquela noite, por uma dessas misteriosas chamadas inconscientes da memória que nos apresentam frequentemente coisas negligenciadas pela nossa consciência, que passaram despercebidas diante da nossa inteligência!”

“Tudo o que quiser ─ concluiu um conviva ─, mas, se não acredita no magnetismo depois disso, o senhor é um ingrato, meu caro!”

(5 de abril de 1882)






Notas 
[1] Não foi achado nenhuma referência à Donato, ao que parece foi um mágico do séc. XIX.
[2] Jean-Martin Charcot (Paris, 1825 — Morvan, 1893) foi um médico e cientista francês; alcançou fama no terreno da psiquiatria na segunda metade do século XIX. Foi um dos maiores clínicos e professores de medicina da França e, juntamente com Guillaume Duchenne, o fundador da moderna neurologia. Suas maiores contribuições para o conhecimento das doenças do cérebro foram o estudo da afasia e a descoberta do aneurisma cerebral e das causas de hemorragia cerebral.
Durante as suas investigações, Charcot concluiu que a hipnose era um método que permitia tratar diversas perturbações psíquicas, em especial a histeria.
Charcot é tão famoso quanto seus alunos: Sigmund Freud, Joseph Babinski, Pierre Janet, Albert Londe e Alfred Binet. A Síndrome de Tourette, por exemplo, foi batizada por Charcot em homenagem a um de seus alunos, Georges Gilles de la Tourette.
[3] Etretat é uma cidade litorânea francesa situada na Normandia, a 206 quilômetros de Paris. A Casa de Guy de Maupassant, em Etretat, chamado "La Guillette" está à venda: http://www.houseofmaupassant.com/Photos-de-la-ville-d-Etretat,12
[4] http://en.wikipedia.org/wiki/Colony_of_Newfoundland#Colony_of_Newfoundland

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

"Deusa dos Pés de Prata" de Hecatus Refelibel

Eis aqui um Soneto Petrarquiano sem métrica definida e lírico com forma de Saudação e Bênção à Deusa Grega do Submundo, Mares e Céus Hécate. 

Este cântico mágico é formado por: 

  • Uma Invocação - onde o sacerdote expressa seu amor a divindade; 
  • Uma Bendição -  A divindade é expressa em si como o sacerdote é a expressão da divindade neste plano;
  • Uma Proteção - Como oração à cada manhã e à cada noite a saudação traz proteção em presença imaterial  ativada pela lembrança contínua da devoção. Também se faz menção ao Deus de guia das almas e guarda egípcio Anúbis; 
  • Um Agradecimento - Cada dia é ofertado como forma de vivência mágica expressas nas fases lunares.


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"Deusa dos Pés de Prata"
de Hecatus Refelibel


Suspira o coração daquele que ama
Suspira na pele, suspira e aquece
Meu peito é um cálice qu'a ti hei de brindar
Transborda a vida na luz do luar

Chaves, facas, espadas e portas
Tu és a deusa, tu és a magia
Em teus caminhos almas vivas e mortas
Na luz sombria da tocha que guia.

O cão de pedra dourada da noite uiva
À Deusa dos Pés de Prata, brilha
Com mexas negras, doiradas e ruivas.
Com cetins, jóias e anéis de magia.

Ramos, tochas, caldeiras e cordas.
Seja saudada em minha partida,
Seja saudada na minha chegada.

Chaves, facas, espadas e portas.
Seja louvada em minha ida,
Seja louvada na minha volta.


Hécate Cthonia, Abençoada sejas.
Hécate Antania, Abençoada sejas.
Hécate Phosphoros, Abençoada sejas.
Hécate Dadophoros, Abençoada sejas.
Hécate Klêidouchos, Abençoada sejas.
Hécate Trivia, Abençoada sejas.
Hécate Brimô, Abençoada sejas.
Hécate Crataeis, Abençoada sejas.
Hécate Prytânia, Abençoada sejas.

Hécate, Hécate, Hécate - Abençoada sejas.

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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Hino a Pã - Aleister Crowley

Hino a Pã - Aleister Crowley



Aleister Crowley


No prefácio de «Magick in Theory and Practice, by The Master Therion», Aleister Crowley de 1929 encontramos o poema Hymn to Pan (Hino a Pã). É apresentado neste blog de forma regular três versões do Poema:

1ª - A versão orginal, em inglês, feita pelo próprio Crowley.
2ª - A versão feita a partir da tradução de Fernando Pessoa qual preocupou-se em manter a conformidade rítmica com o original do que parafrasear rimas soltas de forma literal.
3ª - A versão mais literal e atual feita por Helena Barbas, qual também contribui com sua tese de monografia**.

Peço aos nossos caros convivas que aumentem a resolução do browser , pois me ative a equipar os poemas de forma horizontal para melhor análise.





Pan coupling with Goat
This 1st Century BC statuette
was discovered in the Villa of the Papyri, Herculaneum. 







ALEISTER CROWLEY ( 1875-1947)
Hymn to Pan  - 1929

Ephrix erõti periarchés d’ aneptoman
Iõ iõ pan pan
õ pan pan aliplankte, kyllanias chionoktypoi
petraias ap deirados phanéth, õ
theõn choropoi anax

SOPH. AJ










Thrill with lissome lust of the light,
O man! My man!
Come careering out of the night
Of Pan! Io Pan!
Io Pan! Io Pan! Come over the sea

From Sicily and from Arcady!
Roaming as Bacchus, with fauns and pards
And nymphs and satyrs for thy guards,
On a milk-white ass, come over the sea
To me, to me,

Come with Apollo in bridal dress
(Shepherdess and pythoness)
Come with Artemis, silken shod,
And wash thy white thigh, beautiful God,
In the moon of the woods, on the marble mount,

The dimpled dawn of the amber fount!
Dip the purple of passionate prayer
In the crimson shrine, the scarlet snare,
The soul that startles in eyes of blue
To watch thy wantonness weeping through

The tangled grove, the gnarled bole
Of the living tree that is spirit and soul
And body and brain – come over the sea,
(Io Pan! Io Pan!)
Devil or god, to me, to me,

My man! my man!
Come with trumpets sounding shrill
Over the hill!
Come with drums low muttering
From the spring!

Come with flute and come with pipe!
Am I not ripe?
I, who wait and writhe and wrestle
With air that hath no boughs to nestle
My body, weary of empty clasp,

Strong as a lion and sharp as an asp –
Come, O come!
I am numb
With the lonely lust of devildom.
Thrust the sword through the galling fetter,

All-devourer, all-begetter;
Give me the sign of the Open Eye,
And the token erect of thorny thigh,
And the word of madness and mystery,
O Pan! Io Pan!

Io Pan! Io Pan Pan! Pan Pan! Pan,
I am a man:
Do as thou wilt, as a great god can,
O Pan! Io Pan!
Io Pan! Io Pan Pan! I am awake

In the grip of the snake.
The eagle slashes with beak and claw;
The gods withdraw:
The great beasts come, Io Pan! I am borne
To death on the horn

Of the Unicorn.
I am Pan! Io Pan! Io Pan Pan! Pan!
I am thy mate, I am thy man,
Goat of thy flock, I am gold, I am god,
Flesh to thy bone, flower to thy rod.

With hoofs of steel I race on the rocks
Through solstice stubborn to equinox.
And I rave; and I rape and I rip and I rend
Everlasting, world without end,
Mannikin, maiden, Maenad, man,

In the might of Pan.
Io Pan! Io Pan Pan! Pan! Io Pan!
FERNANDO PESSOA  (1888-1935)*
Hino a Pã   (de Mestre Therion) - 1931


















Vibra do cio subtil da luz,
Meu homem e afã
Vem turbulento da noite a flux
De Pã! Iô Pã!
Iô Pã! Iô Pã! Do mar de além

Vem da Sicília e da Arcádia vem!
Vem como Baco, com fauno e fera
E ninfa e sátiro à tua beira,
Num asno lácteo, do mar sem fim,
A mim, a mim!

Vem com Apolo, nupcial na brisa
(Pegureira e pitonisa),
Vem com Artêmis, leve e estranha,
E a coxa branca, Deus lindo, banha
Ao luar do bosque, em marmóreo monte,

Manhã malhada da àmbrea fonte!
Mergulha o roxo da prece ardente
No ádito rubro, no laço quente,
A alma que aterra em olhos de azul
O ver errar teu capricho exul

No bosque enredo, nos nás que espalma
A árvore viva que é espírito e alma
E corpo e mente - do mar sem fim
(Iô Pã! Iô Pã!),
Diabo ou deus, vem a mim, a mim!

Meu homem e afã!
Vem com trombeta estridente e fina
Pela colina!
Vem com tambor a rufar à beira
Da primavera!

Com frautas e avenas vem sem conto!
Não estou eu pronto?
Eu, que espero e me estorço e luto
Com ar sem ramos onde não nutro
Meu corpo, lasso do abraço em vão,

Áspide aguda, forte leão -
Vem, está fazia
Minha carne, fria
Do cio sozinho da demonia.
À espada corta o que ata e dói,

Ó Tudo-Cria, Tudo-Destrói!
Dá-me o sinal do Olho Aberto,
E da coxa áspera o toque erecto,
E a palavra do louco e do secreto
Ó Pã! Iô Pã!

Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã Pã! Pã.,
Sou homem e afã:
Faze o teu querer sem vontade vã,
Deus grande! Meu Pã!
Iô Pã! Iô Pã! Despertei na dobra

Do aperto da cobra.
A águia rasga com garra e fauce;
Os deuses vão-se;
As feras vêm. Iô Pã! A matado,
Vou no corno levado

Do Unicornado.
Sou Pã! Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!
Sou teu, teu homem e teu afã,
Cabra das tuas, ouro, deus, clara
Carne em teu osso, flor na tua vara.

Com patas de aço os rochedos roço
De solstício severo a equinócio.
E raivo, e rasgo, e roussando fremo,
Sempiterno, mundo sem termo,
Homem, homúnculo, ménade, afã,

Na força de Pã.
Iô Pã! Iô Pã Pã! Pã!

Hino a Pã (trad. Literal – H.B.)**

Eu estremeço em êxtase; plano nas asas da alegria súbita! Oh Pã. Oh Pã, aparece-nos, pirata do mar, do abismo de pedra de Cilene batida pela neve. Rei, criador da dança para os deuses, vem, a fim de que juntando-te a nós possas fixar nos passos de Nísia e Cnósia, as tuas danças que aprendeste sozinho. Agora eu quero dançar. E possa Apolo, senhor de Delos, caminhar sobre o Mar Ícaro e juntar-se a mim sob a sua forma divina, em benevolência eterna.

Tragédia Ajax de Sófocles (coral, VV. 695-705)






Arrebata-te com a luxúria ágil da luz
Oh homem, meu homem
Vem a correr saindo da noite
De Pã! Io Pã!
Io Pã! Io Pã! Vem sobre o mar

Da Sicília e da Arcádia!
Errando como Baco, com faunos e leopardos
E ninfas e sátiros por teus guardas,
Sobre um burro branco de leite, vem sobre o mar
Até mim, até mim,

Vem com Apolo em vestes nupciais
(Pastora e Pitonisa)
Vem com Artemísia, calçado de seda,
E lava a tua coxa branca, belo Deus,
À lua dos bosques, no monte de mármore,

A aurora com covinhas da fonte de âmbar!
Mergulha a púrpura da oração apaixonada
No sacrário carmesim, na rede/armadilha escarlate,
A alma que se surpreende em olhos de azul
Para observar a tua impudícia a lacrimejar através

Da mata emaranhada, do nodoso caule
Da árvore viva que é o espírito e a alma
E o corpo e o cérebro – vem sobre o mar,
(Io Pã!, Io Pã!)
Diabo ou deus, até mim, até mim,

Meu homem! meu homem!
Vem com trombetas troando agudas
Sobre o monte!
Vem com tambores murmurando baixinho
Da nascente!

Vem com flauta e vem com avenas!
Não estou eu maduro?
Eu, que espero e me retorço e luto
Com o ar sem ramos para aconchegarem
O meu corpo, cansado de abraço vazio,

Forte como um leão e afiado como uma áspide – 
Vem, Oh vem!
Estou entorpecido
Com a solitária luxúria da servidão demoníaca 
Espeta a espada pelos ulcerantes grilhões,

Devorador de tudo, gerador de tudo;
Dá-me o sinal do Olho Aberto,
E o penhor erecto da coxa espinhosa
E a palavra da loucura e do mistério,
Oh Pã! Io Pã!

Io Pã! Io Pã Pã! Pã Pã! Pã
Eu sou um homem:
Faz como quiseres, como o pode um grande deus,
Oh Pã! Io Pã!
Io Pã! Io Pã Pã! Estou acordado

Nas garras da serpente.
A águia retalha com o bico e as garras;
Os deuses retiram-se:
Chegam as grandes feras, Io Pã! Eu nasci
Para a morte no corno

Do Unicórnio.
Eu sou Pã! Io Pã! Io Pã Pã! Pã!
Sou teu companheiro, sou o teu homem,
Bode do teu rebanho, sou ouro, sou deus,
Carne do teu osso, flor da tua vara.

Com cascos de aço corro sobre as rochas
Pelo solstício teimoso até ao equinócio.
E deliro; e violo e rasgo e fendo
Sempiterno, mundo sem fim,
Manequim, donzela, Ménade, homem,

No poder de Pã.
Io Pã! Io Pã Pã! Pã! Io Pã!



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Notas:
(*) N.d.E: Hino a Pã; traduzido de Hymn To Pan, de Aleister Crowley, por Fernando Pessoa em 1931. 
(**) A tradução e o trabalho de Fernando Pessoa em respeito à Crowley é amplamente abordado na Monografia "Hino a Pã - tradução (traição) tradição de Helena Barbas"; Uma análise das cartas que Pessoa troca, das censuras, etc.; é feita menção as alterações feitas visão literal do assunto.